quinta-feira, 7 de julho de 2011
terça-feira, 17 de maio de 2011
palavras diferentes
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam;
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?
AS PALAVRAS
Eugénio de Andrade
sábado, 23 de abril de 2011
quinta-feira, 14 de abril de 2011
segunda-feira, 14 de março de 2011
Arte de Amar
Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A Alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus - ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
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Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
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Porque os corpos entendem-se, mas as almas não.
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Manuel Bandeira
terça-feira, 8 de março de 2011
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Hoje
só canto para as Mulheres:
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As que passam na rua,
Àquelas que não saírem
Para a rua, as que se encontram
Na cozinha, no escritório,
Ao balcão, na enfermaria,
Na cadeia, no convento,
Na escola, no gabinete,
Na empresa, no sindicato,
No campo, no parlamento,
No lupanar ou na igreja,
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Orientando o tráfego dos homens,
Chorando o filho morto pelos homens
Ou o filho feito à força pelos homens,
Lavando a roupa suja dos seus homens
Ou consertando os nervos rebentados,
Pelo silêncio-garra dos seus homens,
Essas mães inconsoláveis
das Praças todas de Maio,
Às mães de inocentes mortos
às ordens dos homens-herodes
As mães fiéis junto às cruzes
Que homens-pilatos ergueram,
Mulheres, Mães, virgens-loucas
De todos os noivos-machos,
Primas, amigas, vizinhas
De casa, de luta e sonho,
De raiva, de crença e vida,
Companheiras, inimigas,
Minhas irmãs, minha Mãe.
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São Mulheres? Hoje basta.
É dia oito de Março:
dia de eu pagar a renda
à Mulher-Mãe desta casa
Para onde há muitos anos
Mudei ao deixar a sua.
Por isso é que eu hoje canto
Só para as Mulheres: na rua
ou noutro lugar qualquer.
Salvé, Mulher e Mãe! Amen!
E seja o que Deus quiser.
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Lopes Morgado in Mulher-Mãe
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
Flor de Lotus
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
O que há em mim é sobretudo cansaço
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foto da net
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O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
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A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intenso por um suposto alguém.
Essas coisas todas-
Essas e o que faz falta nelas eternamente;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
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Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada-
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
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E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço..
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Álvaro de Campos